Wednesday, July 25, 2012

"Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge"




O diretor Christopher Nolan pegou muito bem o espírito do justiceiro mascarado na trilogia que agora se encerra no excepcional "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge".
Um dos heróis preferidos do mundo dos quadrinhos, Batman sofreu muito com suas versões na tela, principalmente a série dos anos 1960, onde virou comédia na pele do ator Adam West - apesar de o seriado ter embalado muito a infância de milhões de fãs pelo mundo, inclusive este que vos escreve. No final do século XX, Batman foi para a telona pelas mãos do diretor Tim Burton, ganhando um ar gótico, mais ainda distante do personagem atormentado que era mostrado nas HQ.

Nolan conseguiu capturar muito bem o tipo recluso, depressivo e violento ao extremo que é Bruce Wayne e também Batman. E isso fica mais expressivo nesta terceira parte, que se passa oito anos após os eventos em que Batman enfrentou o lunático Coringa (vivido por Heather Ledger, que morreria pouco depois das filmagens).

O vigilante mascarado está desaparecido e é visto como um criminoso. Até mesmo Bruce Wayne não aparece mais, vivendo como um ermitão em sua mansão, tal como o bilionário Howard Hugues, que no século passado trancafiou-se em seu palácio, onde passou os últimos anos urinando em garrafas de leite e cultivando unhas de quase 20 centímetros. Wayne não chegou a tal extremo, mas a os boatos em Gotham City fazem a população acreditar que sim.

A aposentadoria de Batman termina quando uma ameaça surge sobre Gotham City - a cidade é claramente uma reconstituição de Nova Iorque. O mercenário Bane, que usa uma máscara bizarra, que o ajuda a inalar incessantemente uma droga conhecida como Veneno, toma a cidade e planeja mandá-la pelos ares, junto com seus 12 mihões de habitantes.

"Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge" tem quase 3 horas de duração, exatas 2h44min, que não se vê passar. E todos os seus personagens são bem estruturados, cada um tendo o seu tempo para ser explorado na tela - o ator Christian Bale, que surgiu para o mundo no filme de guerra "Império do Sol", parece ter sido talhado para interpretar o mascarado, assim como Michael Caine, oscarizado em 1987 por "Hannah e Suas Irmãs", é o perfeito mordomo Alfred. E Gary Oldman está ótimo novamente como o Comissário Gordon. Também não dá para esquecer Joseph Gordon-Levitt (do seriado 30 Rock From the Sun e de A Origem) como o policial que consegue enxergar dentro de Wayne e que vai se transformar em personagem essencial para a mitologia de Batman.

O melhor de "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge", no entanto, é Bane, interpretado por Tom Hardy (de Rock'n'Rolla - A Grande Roubada e A Origem). Certamente um dos maiores vilões da história do cinema, próximo, muito próximo de Darth Vader. Assustador, violento e sem o mínimo escrúpulo, mata qualquer um que cruze seu caminho como se estivesse esmagando uma formiga. E as suas cenas combatendo Batman são memoráveis - na primeira do filme, Bane aplica uma surra homérica e horripilante no herói mascarado.

As mulheres também são destaque. A lindinha Anne Hathaway (de O Diabo Veste Prada) está sedutora como Selina Kyle, a Mulher-Gato, e sua ambiguidade. Ora vilã, ora mocinha, ela não sabe se fica ao lado de Batman ou o deixa para os tubarões. E a bela francesa Marion Cotillard (de Piaf, Um Hino ao Amor), tem um ar magnético como a milionária Miranda Tate, alvo romântico de Bruce Wayne.

Enfim, "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge" é um dos melhores, se não o melhor filme de super-heróis já feito. Fiel aos quadrinhos e onde até mesmo os furos de roteiro são perdoados, tal a magnitude do que se vê na tela.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Movimento Browniano"



A holandesa Nanouk Leopold conseguiu superar o mestre Jean-Luc Godard em seu reflexivo "Movimento Browniano". E isto não é um elogio. É ofensa mesmo.

O título refere-se a um termo da física, em que partículas se movem de modo aleatório, sem grandes explicações. E é mais ou menos o que faz a protagonista, que age de forma estranha e sem explicação.

O espectador deve ter muita paciência para assistir o filme em que é mostrado o cotidiano da médica Charlotte (Sandra Hüller) em Bruxelas. Ela é casada com o Max (Dragan Bakema) e tem um filho. O problema é que Charlotte mantém uma vida dupla. É viciada em jogos sexuais com pacientes que encontra no hospital em que trabalha. E todos eles são homens de tipos estranhos. São gordos, peludos, carecas, velhos, usam unhas compridas.

Para transar com eles, alugou um pequeno apartamento - uma garçoniere, como o faziam alguns homens casados em tempos passados. Algumas cenas beiram o pornô, mas sem apelação.

"Movimento Browniano" até tem um tema interessante. Só que é contado de forma cansativa. As tomadas são longas, com closes excessivos na protaganista, que não é uma mulher bonita. Quase não existem diálogos. E por vezes, se exige que o espectador tenha de adivinhar o que se passa na tela. Até um exercício interessante, mas deficiente.

Cotação: ruim
Chico Izidro

Thursday, July 19, 2012

Valente



Nunca os cabelos de um personagem animado foram tão perfeitos quanto os da molecona Merida em "Valente", direção de Mark Andrews e Brenda Chapman. Os longos cachos vermelhos da princesa escocesa se agitam perfeitamente quando ela sai em disparada pelas florestas próximas ao castelo de seu pai, o rei Fergus, cuja perna esquerda foi arrancada por um urso.

Merida é uma rebelde, na verdade, uma feminista na Idade Média. Seu destino casar com o filho primogênito de um dos líderes dass três clãs aliadas de seu pai. O problema é que a garota é feliz com seu arco e flecha e seu cavalo..... O casamento não está em seus planos. E isso trará consequências trágicas, quanto ao tentar escapar do seu destino indesejado. Merida pede a ajuda de uma feiticeira para que enfeitice a mãe, defensora ferrenha das tradições e que não aceita de forma alguma a rebeldia da filha. Só que o feitiço acaba dando errado e transformando a rainha Elinor.

Se em sua primeira parte "Valente" foca na insatisfação de Merida, em sua segunda parte, ele muda totalmente. Vira quase um filme de terror, com a aparição de um monstro odiado por Fergus, e que certamente vai assustar muita criança que irá ver o desenho. E por fim, mostra que a união faz a força, quando mãe e filha têm de unir forças para que a paz reine no reino. A excelência do trabalho da Pixar é inquestionável. Os desenhos são perfeitos e em determinados momentos até podemos ficar em dúvida se é mesmo um desenho, tal a magnitude dos cenários.

Cotação: bom
Chico Izidro

Menos que Nada



O diretor Carlos Gerbase fez um excelente filme em 2000, o policial Tolerância, com Maitê Proença, Roberto Bomtempo e Maria Ribeiro. Desde então tenta emplacar um grande filme. Fracassou com Sal de Prata e 3 Efes. Este foi lançado nos mais variados meios de comunicação simultaneamente - cinema, tevê e dvd. O filme era ruim, destacando-se, no entanto, pela forma original como chegou ao público.

Sua nova obra, "Menos que Nada", recebe o mesmo tratamento. E também deixa a desejar. Apesar da grande atuação do protagonista Felipe Kannenberg e de trazer três belas mulheres, Rosanne Mulholland, Branca Messina e Maria Manoella.

Dante (Kannenberg) está internado num sanatório, onde passa os dias como um zumbi, simulando sexo com uma cadeira e cavando enorme buraco. A médica residente Paula (Branca Messina) se interessa pelo caso, e resolve cavocar o passado dele para tentar ajudá-lo. Entrevistando pessoas próximas ao jovem, acaba sabendo que ele era um estudante de arqueologia, retraido, que morava com o pai, um ex-policial, além do que estava envolvido na descoberta de fósseis pré-históricos nas terras de uma conhecida de infância, Berenice (Maria Manoella, de A Mulher Invisível).

E em Berenice é que pode estar a possível cura para Dante. Os dois eram amigos de infância e a religiosa mãe do garoto o fez se separar da coleguinha, que não veria por quase duas décadas. Ao mesmo tempo que a amiga volta à sua vida, Dante também envolve-se romanticamente com a arqueológa René (Rosanne Mulholland). No escavar a terra pode estar a resposta para a doença do jovem.

O problema é que em "Menos que Nada", e desculpe o trocadilho, falta melhor aprofundamento da trama, que deixa pontas soltas. A produção também deixa a desejar, sem contar aquela triste constatação de que alguns atores são mal-dirigidos ou são ruins mesmos - parecem teatrais em demasia e não se mostram naturais diante das câmeras, como por exemplo Artur José Pinto, que interpreta o chefe de Paula, ou o caricato Ciro, vivido por Alexandre Vargas.

Felipe Kannenberg, no entanto, sobressai com uma atuação comovente e convincente, mostrando ter feito grande trabalho de laboratório. Branca Messina e Maria Manoella também estão bem, mas Rosanne Mulholland, apesar da beleza e de ser extremamente sexy, não convence como a intelectual e desprovida de caráter René.

Cotação: regular
Chico Izidro

Beaufort



O excelente documentário "Restrepo" mostrava o dia a dia de uma divisão do exército americano nos confins do Afeganistão na segunda metade da década de 2000 (o filme chegou às telas em 2010). Bem, deste período e só agora saindo no Brasil, temos o ótimo drama de guerra israelense "Beaufort" (2007), direção de Joseph Cedar.

A trama é praticamente a mesma, não fosse o fato de um ser obra de ficção e o outro uma história real. "Beaufort" é uma base avançada de Israel no Líbano, controlada pelo exército israelense desde 1982, quando da guerra dos dois países naquele ano - aqui cabe lembrar outro ótimo filme sobre o conflito, a animação "Valsa Para Bashir". Após duas décadas e meia de controle do local, os israelenses sairão de lá (a ação se passa em 2000). O que temos em "Beaufort"? Um grupo de soldados contando as horas para sumir daquele canto inóspito, onde são constantemente alvo de mísseis lançados pelos guerrilheiros do Hamas. E como em "Restrepo", não se vê o inimigo. Apenas os mísseis chegando e trazendo o pânico e às vezes a morte.

Apesar do grande número de soldados lotados na base, apenas um grupo deles ganha destaque. Como por exemplo o jovem Liraz Liberti (Oshri Cohen), que toda a hora tem seu comando posto à prova em Beaufort. Ou o soldado que sonha em dar baixa, partir para Nova Iorque se juntar à noiva, ou o que deseja viver da música, apesar da contrariedade dos pais.

"Beaufort" lembra ainda outro drama de guerra, o oscarizável "Guerra ao Terror", principalmente na cena em que um dos soldados tenta desarmar uma bomba no meio do nada, e vestindo um daqueles trajes desconfortáveis. Não espere muita ação em "Beaufort", onde a preocupação maior é mostrar cada segundo tedioso e apavorante do cotidiano dos militares israelenses.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

Violeta Foi Para o Céu



É muito fácil uma cinebiografia cair no lugar comum, didático, sem imaginação. A vida da cantora, artista plástica e militante Violeta Parra é retratada com competência em "Violeta Foi Para o Céu", de Andrés Wood. Para começar, a vida da cantora é entrecortada por uma entrevista concedida por ela à tevê argentina no começo dos anos 1960. Violeta foi uma mulher de origem humilde, nascida em Ñuble, em 1917.

O filme começa com a cantora, que desde cedo, sonhava em seguir a carreira, atravessando o deserto chileno ao lado do filho, e com seu paupérrimo violão. Ela procura um músico ancião, pois quer aprender com ele a cantar e a compor letras. Então, a trama vai e volta no tempo, mas sem nunca ficar incompreensível. Artista prolífica, nos anos 1950, viajou à Europa, apresentando-se na Polônia, União Soviética, Inglaterra e França, onde moraria por dois anos e exporia obras - a 1ª latino-americana a fazê-lo, no Museu do Louvre.

Na década seguinte, retornou à sua terra, quando conheceria o músico suíço Gilbert Favre (vivido por Thomas Durand), que seria um dos fatores de sua ruína. Ela apaixonou-se incondicionalmente por ele, muitos anos mais novo, e quando foi abandonada, começou a entrar em parafuso. Violeta também criou em Santiago a tenda Comuna de La Reina, com o objetivo de transformá-la num centro para a cultura folclórica do Chile. O projeto fracassou herculeamente. Em 1967, depressiva, matou-se com um tiro. Tinha apenas 50 anos. Deixou, porém, canções como "Volver a los 17" e "Gracias a la vida".

Violeta é interpretada magistralmente pela também cantora e atriz Francisca Gavilán. Não bastasse isso, "Violeta Foi Para o Céu" tem um cuidado sonoro poucas vezes visto. Ouvimos o ranger de portas e janelas incessantemente, a chuva caindo sobre a tenda, os dedos dedilhando o violão. O longa é baseado em livro escrito por um dos filhos de Violeta, Ángel Parra.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

Thursday, July 12, 2012

Na Estrada




A expectativa pela transposição às telas do clássico literário "On The Road", de Jack Kerouac, ficou aquém pelas mãos de Walter Salles. "Na Estrada" é bem estruturado, os atores estão afiados, porém pecou por não explorar detalhes mais substanciosos do romance de um jovem vagando pelos Estados Unidos e México no final dos anos 1940 e começo dos 50.

Sal Paradise, aspirante a escritor, recupera-se da morte do pai e vive em Nova Iorque com a mãe. Então ele conhece o poeta Dean Moriarty, na realidade Neal Cassady. Os dois saem pelos Estados Unidos, principalmente andando de carona ou num carro caindo aos pedaços. Nesta viagem alucinante, eles encontrarão os mais variados tipos de pessoas, farão muito sexo, tomarão todas e usarão muitas drogas.

Foi um período intenso na vida de Kerouac, que mudou seu nome para Sal Paradise a pedido dos editores do livro, lançado em 1957. Tanto que o uso abusivo de drogas e álcool provocou sua morte precoce, apenas aos 47 anos, por causa da cirrose hepática. Salles foi cuidadoso na reconstituição de época e na caracterização de Paradise, vivido por Sam Riley (de A Festa Nunca Termina, sobre a efervescência musical na Manchester dos anos 1980). Riley acaba eclipsado pela bela atuação de Garrett Hedlund (Eragon e Troia), que vive Dean Moriarty. Mais uma vez o coadjuvante supera o protagonista.

Evidente que condensar centenas de páginas em pouco mais de duas horas se torna um exercício praticamente impossível. Por isso, vários personagens foram suprimidos, recebendo destaque Dean Moriarty, sua mulher Marylou (Kristen Stewart, totalmente liberta daqueles tipos anódinos que costuma viver no cinema). E outros são sub-aproveitados, como o escritor Old Bull Lee, na realidade o doidão William Burroughs, cujo intérprete é o sempre excelente Viggo Mortensen.

"Na Estrada" peca também pela lentidão em determinadas cenas - muitas poderiam ser reduzidas. E dar mais destaques à viagem de Sal e Dean ao México, um dos pontos fortes do livro. As drogas e seus efeitos estão lá, mas não com toda a intensidade descrita por Kerouac em "On The Road". Salles dedicou pouco mais de 10 minutos a esta parte interessante do romance, o que acaba por enfraquecer o longa.

Cotação: bom
Chico Izidro

A Guerra dos Botões




Nada como as memórias da infância e adolescência. Elas são fortes no livro de Louis Pergaud, "A Guerra dos Botões", que tem uma nova versão cinematográfica. A obra foi às telas, antes, em 1934, 1962 e 1994, ganhando nova leitura agora, sob a direção de Yann Samuell. No interior da França, duas aldeias vivem em constante conflito há gerações. E a rivalidade é refletida em dois grupos de garotos com a idade entre sete e 14 anos. Todos os dias, após as aulas, eles vão à luta com espadas de madeira, e usando de todas as táticas de guerrilha para se saírem vitoriosos.

A área rural da França era paupérrima no começo dos anos 1960. Cenário em que as crianças não preocupavam-se com as diferenças sociais. Todos eram iguais, filhos de trabalhadores, onde sobressai o esperto Lebrac (Vincent Bres). Seu pai abandonou a família, e ele é que ajuda a mãe nas lides diárias e a criar as duas irmãs pequenas. Além disso, é o líder dos Longeverne, e tem uma atração pela vizinha, a moleca Lanterna (Salomé Lemire), que sonha em fazer parte da turma, mas é rejeitada por ser mulher.

A turma de Longeverne tem como inimigos os meninos da vizinha Velrans, cujo líder é o violento Asteca (Théo Bertrand), filho do professor da escola local, Monsieur Labru (Alain Chabat). Labru que adora entrar em combates verbais com o professor Merlin (Eric Elmosnino, do excelente Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres). As intervenções dos dois são hilárias. Eles raramente partem para a violência, ficando mesmo nos xingamentos: "Coça-saco", diz um. "Cagão", replica outro. "Bunda-mole", treplica. E por aí vai.

Em seu mundo de fantasias, com as batalhas travadas com espadas de madeiras, a valentia vai pro espaço quando alguém é feito prisioneiro pelo adversário. A punição é ver os botões de suas roupas serem arrancados. Isso significa muito, pois como todos são pobres, farão falta, pois o produto é escasso e caro. Então quando chegarem em casa, acabarão apanhando de seus pais. Ou seja, toda a valentia infantil desaparece.

"A Guerra dos Botões" faz ainda uma rápida e bela homenagem a Cinema Paradiso, quando a comunidade de Longeverne assiste a um filme na igreja. O padre censura as cenas onde os casais se beijam.

O filme traz atores infantis cativantes, principalmente a garotinha Lanterna e os irmãos Tigibus e Grangibus. E conseguindo ainda escapar da armadilha de cair no sentimentalismo barato. O final é um achado, quando a garotada cerca Lebrac no pátio da escola.

Cotação: bom
Chico Izidro

Thursday, July 05, 2012

O Espetacular Homem-Aranha

A pergunta que se faz aqui é porque recontar a história do surgimento do Homem-Aranha. Talvez seja, depois dos três episódios estrelados por Tobey Maguire entre 2002 e 2007, atingir um público mais jovem, com mudanças que chegam a soar como heresias para os fãs mais antigos do aracnídeo. Em "O Espetacular Homem-Aranha", do diretor Marc Webb (de 500 Dias Com Ela), está lá a aranha radioativa picando Peter Parker, deixando o adolescente franzino e vítima de bullying em super-herói.

Porém, ocorreu uma grande mexida na história de como conhecemos o desenrolar da vida do garoto. Nas histórias em quadrinhos, e foi respeitado isso na trilogia anterior, a transformação de Peter Parker se dava paulatinamente. Aqui optou-se pela pressa - tão logo é picado, Peter já sai batendo em bandidos no metrô. A morte do tio Ben também sofreu alterações, assim como seu relacionamento com Gwen Stacy (vivida pela gracinha Emma Stone), e o pai da garota, o policial linha-dura George Stacy (Denis Leary). O vilão da vez é o Lagarto (Rhys Ifans). E nesta versão, o dr. Curt Connors, que torna-se o gigantesco e violento réptil, tem uma ligação profissional com o pai de Peter, que não existia no universo das HQ.

Em "O Espetacular Homem-Aranha", a vida familiar de Peter Parker é mais aprofundada, trazendo os seus pais, Richard (Campbell Scott) e Mary (Embeth Davidtz). Os dois são obrigados a fugir, deixando o menino para ser criado pelos tios, interpretados respectivamente por Martin Sheen e Sally Field.

Modificar as histórias originais não é nenhuma novidade no cinema. E aqui, apesar de incomodar os puristas, não estraga o filme. Pelo contrário. "O Espetacular Homem-Aranha" é uma bela obra, com efeitos especiais cuidadosos e bonitos, atuações seguras - o inglês Andrew Garfield, de "A Rede Social" desbanca tranquilamente Maguire no papel de Peter Parker, apesar de já com 28 anos interpretar um adolescente. Pois ele tem um corpo franzino, parece tão frágil, que encanta. E sua química com Emma Stone é perfeita, tanto que o casal emendou o romance fora das telas.

O elenco coadjuvante também mostra-se competente. E pensar que um dia a noviça voadora Sally Field viveria tia May, que nos quadrinhos tem o rosto mais enrugado que uva passa. E note-se atores que já foram protagonistas de outros filmes em décadas passadas, vivendo tranquilamente a transição para personagens secundários, como Campbell Scott, de "Vida de Solteiro", e C. Thomas Howell, de "A Morte Pede Carona".

Enfim, "O Espetacular Homem-Aranha" pode não primar por respeitar a mitologia do personagem, mas é cinema puro.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Para Roma, Com Amor"

Em seu novo filme e de novo numa incursão europeia, após Londres, Barcelona e Paris, o diretor Woody Allen priorizou a Cidade Eterna. Em "Para Roma, Com Amor", o nova-iorquino neurótico da gema também homenageou o cinema italiano dos anos 1960 e 70, principalmente A Doce Vida e Roma de Fellini. Desta feita, Allen também optou por não contar uma história única, dividindo o filme em quatro núcleos. Não esqueçamos que na década de 1980, o excepcional filme do diretor, "Hannah e Suas Irmãs" mostrava várias histórias paralelas, mas que em determinado momento se cruzavam.

"Para Roma, Com Amor" mostra tramas totalmente independentes e são contadas as migalhas, com o resultado acabando por tornar-se irregular. Numa delas, talvez a melhor, Allen dá a redenção ao histriônico e patético Roberto Begnini. Ele vive Leopoldo, um funcionário comum de uma repartição, que de um dia para o outro vira uma pessoa famosa. Qual seu feito? Nenhum. Simplesmente é uma ironia de Allen com estas celebridades espontâneas da tevê, que não escreveram um livro, não fizeram um filme, não acharam a cura de uma doença. Apenas são famosos por serem. Simples. Qualquer bobagem que Leopoldo faça vira manchete. Como prefere o pão no café da manhã? Como faz a barba, se antes ou depois do desjejum... Um zero, como estes famosos da revista Caras.

Em outra história, fraca, o desajeitado Jesse Eisenberg, de "A Rede Social" e "Zumbilândia" vive Jack, um jovem arquiteto que conversa com seu "eu" 30 anos mais velho, Alec Baldwin, que também lhe serve de consciência. Mesmo morando com a namorada, Jack acaba por se apaixonar pela insuportável e comum Monica (a chatinha Ellen Page, de Juno). O personagem de Baldwin está ali, onipresente, enquanto Allen tenta vender uma graça e beleza que Page definitivamente não possui. A trama chega perto de irritar.

Allen volta a atuar (não o fazia desde Scoop - O Grande Furo, de 2006) na história do agente funerário que tem uma bela voz e se mostra excepcional cantor de ópera. Mas só quando está debaixo do chuveiro. Então, Allen, um ex-diretor de uma gravadora especializada em óperas, decide produzir o espetáculo Il Pagliacci, de Ruggero Leoncavallo. Claro que o sucesso só surge sob uma condição. E desta vez o diretor foge de seus tipo neurótico, mas mostra-se xenófobo e impaciente com os italianos.

E na última história, um casal do interior chega a Roma e se desencontra. Ela, Milly (Alessandra Mastronardi) acaba envolvendo-se com um ator canastrão de cinema, que só pensa em levá-la para a cama. E Antonio (o insosso Alessandro Tiber), sem saber onde encontra-se a esposa, depara-se com a flamejante prostituta Anna (Penélope Cruz) durante encontro com alguns parentes esnobes e conservadores.

Infelizmente, nada parece original em "Para Roma, Com Amor". Tramas requentadas e previsíveis. Alguns diálogos, porém mostram que Woody Allen permanece afiado. Porém como também estereotipa os judeus em obras anteriores, Allen o faz com os italianos. E algumas situações são por demais forçadas, como o encontro nas ruas de Eisenberg e Baldwin. O cineasta sempre repete, em suas entrevistas, que nmunca vê seus filmes depois de finalizados. Por isso, se parasse para assistir "Para Roma, Com Amor", teria uma grande decepção.

Cotação: irregular
Chico Izidro

"Apenas Uma Noite"


Será que vale a pena sacrificar o amor pela segurança? Bem, as pessoas fazem isso todos os dias ao redor do mundo. Em "Apenas Uma Noite", do diretor Massy Tadjedin, o casal formado por Keira Knightley e Sam Worthington está ameaçado pela sombra do ciúme culpado de Joanna. Ela acredita que Michael tenha um caso com uma colega de trabalho, Laura (Eva Mendes). Isso pode jogar seu marido nos braços da estonteante morena.

Não bastasse isso, Joana ainda tem dúvidas de seu amor por Michael, pois tem forte atração pelo escritor Alex Mann (Guillaume Canet) , que vivendo em Paris, aparece em Nova Iorque exatamente no dia em que o marido viaja a negócios para a Filadélfia.
A questão em "Apenas Uma Noite" é saber se troca-se o certo pelo duvidoso. E sendo o certo não certo assim, deu para entender? O filme não ousa muito, por ter saído de estúdios americanos, cujo público, sabe-se, é conservador em relação ao sexo e a instituição família.

E a inglesa Keira Knightley, por mais que tente-se vendê-la como uma beldade, sabemos ser isto enganoso. A atriz tem recursos escassos, falta-lhe sensualidade e beleza. E chega a ser covardia competir com a voluptuosa Eva Mendes, aqui contida. Sam Worthington, por sua vez, parece também ser um peixe fora da água. Seu mundo são os filmes de ação. Faltam nele recursos dramáticos para segurar o personagem.

Quem se sobressai é um quase irrecohecível Griffin Dunne, do inesquecível "Depois de Horas", de Martin Scorsese. Seu personagem é um homem de comentários cruéis e análises diretas sobre o casamento, frágil, de Joana e Michael.

Cotação: regular
Chico Izidro